> o paradigma causa-efeito <


Sem dúvida um dos fenómenos que mais me fascina nas voltas que o mundo dá (leia-se universo) é o facto da mera passagem do tempo gerar homogeneidade (2ª lei da termodinâmica) e a existência do espaço gerar complexidade. De facto lógicas simples, quando analisadas macroscópicamente definem lógicas mais complexas. É disso exemplo tudo o que nos rodeia, as regras simples que regem o átomo quando combinadas entre sí formam as regras menos simples que regem as moléculas que quando combinadas entre sí formam as regras ainda menos simples que regem os compostos, e por aí a diante. Um exemplo mais polido é a explicação axiomática da matemática a partir da lógica simples.
Na verdade este "caminho" entre o microscópico e o macroscópico ou entre as causas e os efeitos é um caminho que ganha "volume" quando navegado dos primeiros para os segundos e que pode ser entendido como um cone hiperbólico n-dimensional (imagine-se um cone curvo, é um cone hiperbólico tridimensional) em que o vértice é a TGU (teoria da grande unificação) e o resto são, entre outros, os fenómenos do mundo como os conhecemos.

<-- Vértice ... Base -->
<-- Simples ... Complexo -->
<-- Microscópico ... Macroscópico -->
<-- Teoria ... Prática -->
<-- Causa ... Consequência -->

Um dos possíveis caminhos do vértice para a base nesta visualização seria:

Vértice (?) - ... - Lógica - Matemática - Física - Química - Bioquimica - Biologia - Ecologia - Sociologia - Religião - ... - Base (?)

Corrigido pelo comentário do Rui Gil, outra abordagem:

..., corda*, quark, átomo, molécula, composto, organismo, ser, sociedade, ...

* A teoria das cordas não está provada experimentalmente e como tal não passa disso, mas em existindo o lugar dela seria este.

ou outro ramo:

..., átomo, electricidade, electrónica digital, microcomputador, sistema operativo, virtual machine*, aplicação, ...

* VM introduzida em nome do Rui Gil, empenhado Java-ista ;)

De facto nos primórdios da consciência humana, o homem entrou em cena como uma máquina com consciência do seu habitat e pouco mais, era portanto incapaz de compreender os fenómenos abaixo ou acima daquele(s) que estava programado para fazer, no entanto a necessidade de explicar o meio - porque existe o dia e a noite? porque precisamos de comer? porque nos atraímos pelo sexo oposto? - despoletou uma esforço de experiênciação, solidificaram-se conhecimentos sobre o meio nas mais diversas áreas, o domínio da caça, dos instrumentos, mais tarde a astronomia Maia, a filosofia Grega, as Religiões, etc... No entanto, todo esse conhecimento tinha uma característica comum: era CONSEQUÊNCIA da observação directa da natureza e portanto explicava apenas no sentido da base do cone. Era todo ela sabedoria sem conhecimento de causa - Os rios movem-se porque se movem, Deus existe e o Diabo também porque sim, o Sol nasce e põe-se todos os dias porque sempre o fez, etc...
O desconhecimento do que estava para trás levou ao erro natural de trocar as causas com as consequências e tentou-se explicar o mundo como consequência do homem (à sua imagem e semelhança) em vez do oposto.
Foi só quando se começou a explorar no sentido ascendente, quando se deixou de usar a cabeça para imaginar ou observar e se a começou a usar para abstrair e teorizar, que realmente começámos a vislumbrar o barro primordial - foi esse advento que hoje se considera a revolução científica. Grandes surpresas nos esperavam (o que não é minímamente um espanto), grandes dogmas foram abalados, grandes impérios vacilaram e ruiram. A ciência chegou para ficar, como único olho que temos para fora do nicho de complexidade que ocupamos, cada passo que demos no sentido do vértice explicou as bases de mais uma panóplia de fenómenos que apenas tinhamos por garantidos, cada moroso passo que demos no sentido do vértice mudou a forma como encaramos o mundo.
E no fim de tudo isto atingiu-nos a desilusão de não sermos o princípio nem o fim de nada de sermos apenas uma consequência macroscópica da complexidade de inúmeros pequenos fenómenos, pequenos e insignificantes fenómenos que em nada contêm a tão apologiada e desejada magnificiência humana. Mas resta-nos a par com isso a estrondosa apreensão que a vida e a consciência como a conhecemos não é um passe de mágica, é consequência inevitável da complexidade.
Neste contexto, as grandes perguntas da Humanidade - por que estamos aqui, o que acontece após a morte, existe ou não deus - tornam-se tão patéticamente específicas a nós próprios, tão fora de sentido para o universo que só apetece esclarecer que:
Após a morte você sentirá exactamente o que sentia antes de ter nascido.