> a reinvenção da web <


Quem se lembra do que era a web em inícios / meados dos anos 90? Uma amálgama de páginas pessoais, de cariz maioritáriamente académico onde cada um escrevia o que lhe dava na real gana, metia fotos ao deus-dará e publicava os preciosos links que a muito custo havia descoberto para outras páginas de interesse. Interesse para o autor como é óbvio! claro está que navegando a partir destas páginas se descobrem novas pessoas, com novos temas e principalmente novos links, mas sempre com alguma ligação temática à página que a referênciou e às que por sua vez referencia. Era, sem ninguém fazer nada por isso, um sistema complexo - nem ordenado (cada um fazia o que bem entendia) nem caótico (um físico tende a apontar a assuntos da física, a assuntos dos seus gostos pessoais, etc) estava a boiar nesta margem entre a ordem e o caos onde os sistemas se tornam tão interessantes e evolutivelmente estáveis. Não era pois surpresa que a web encarnava ambos estes adjectivos. A web era até então e cada vez mais a encarnação do seu nome.
A web meus amigos, não era um ser vivo porque simplesmente não era um ser, mas era sem dúvida uma entidade viva.
Ou pelo menos foi-lo até ser derrotada pelo seu sucesso. Sucesso implica progresso e progresso acarreta ordem!
Foi em meados / finais da década de 90 que se deram duas revoluções: uma) a massificação dos motores de busca. duas) A constatação que a web, dadas as suas características de meio de comunicação multi-média low-budget era o meio publicitário passivo por excelência.
Foi sob estes dois fenómenos que se foi viciando o delicado equilibrio entre ordem e caos e a web foi lentamente "congelando". Tornou-se progressivamente numa gigantesca base-de-dados multi-institucional, um point-and-shoot de googles e webcrawlers, o link pessoal que dava união à teia caiu em desuso e a web matematizou-se, estruturou-se, solidificou, tornou-se altamente útil e fiel e como consequência de tudo isso... morreu.
Mas tal como andamos sobre o húmus dos nossos antepassados, surgiu recentemente este conceito de web-log, mais conhecido por Blog! um conceito tão novo que é tão velho e que em cima do asfalto da cada vez mais petrificada web vem de novo trazer o perfume humano à coisa, vem dar a sua pitada de sal que faz um conceito evoluir e prosperar e de um difícilmente fazer 2, mas de 10 muito rápidamente fazer 100, uma explosão cybercâmbrica (gosto particularmente desta) cujo futuro apenas depende do poder que proporciona aos utilizadores... demasiado poder e encontrará o destino da web, insuficiente e poderá perder a massa crítica quando a moda simplesmente passar. É entre estes dois paradigmas que se esconde a virtude, como aliás em tudo na vida.
É deveras interessante este novo conceito, esta nova forma de comunicação individual. O facto de eu estar a usá-lo sem este nunca me ter sido publicitado é prova da sua saúde, mas até quando? é que se isto vinga... esta treta dos blogs ainda vai ser estudada nas aulas de história como o conceito predecessor de algo muito grande.