> homo politicus <


Tenho andado arredado das noitadas, talvêz por isso a minha veia bloguista não se tenha feito sentir ultimamente. Uma breve análise às datas dos últimos artigos confirma esta suspeita ;)

A olhar para o meu aquário e a assistir à dança reprodutiva de dois casais de Pterophyllum scalare também conhecidos como escalares ou "aqueles peixinhos triangulares", fui presenteado com a tão afamada "crueldade" animal. Sendo que andava tudo à bulha, ele com ele e ela com ela, de repente, por uma conjugação de factores, calhou estar cada casal no seu canto e deram em simultâneo inicio à postura. Cada casal estava entretido a cuidar da sua prol no seu canto do aquário sem complicações de maior. Isto assim foi andando até um dos casais perder os ovos para a boca de um grande Synodontis eupterus, a partir daí atacaram impiedosamente o outro casal para lhes tentar comer os ovos numa atitude claramente pró-individo, mas anti-espécie.
Na verdade, temos na natureza casos como este e para todos os gostos e feitios.
Os leões da savana africana encontrando uma fêmea com crias matam as crias todas, e são recompensados com uma quase instantânea entrada no cio das suas vítimas, uma atitude totalitarista para dizer o mínimo, uma aparente arrogância do individuo para com a comunidade.
Os gorilas por exemplo já se organizam em grupos com um lider absoluto, um macho alfa responsável pela cópula da quase totalidade das fêmeas, no entanto outros machos coexistem pacíficamente no grupo, trabalhando e defendendo o mesmo. Esta atitude de submissão em relação ao lider e contributo para o sucesso do mesmo assemelha-se a um regime opressor em que os muitos trabalham para os poucos, e assim vão vivendo.
Na maioria dos insectos formadores de colónias observamos uma mecanização total do individuo em prol da comunidade, como no caso das térmitas em que cada uma sabe o seu lugar, não o discute e vive para trabalhar pelo bem da raínha que encarna o objectivo máximo da colónia - a reprodução e consequente viabilidade ecológica. Este esforço cego e mecanizado obcecado pelo sentido de estado é um comunismo na sua forma mais pura.
As formigas por outro lado têm uma estratégia mais dinâmica em espalhando-se erraticamente à volta do seu formigueiro, têm a estratégia de seguir sempre o caminho por onde mais formigas vão, é como uma democracia, em caso de encruzilhada no caminho segue-se pela maioria - nenhuma decide, e rápidamente torna-se caminho aquele que a maioria seguiu.
Seja totalitarista, democrático, socialista ou individualista, a verdade é que todas estas atitudes têm algo em comum: são a melhor abordagem ao problema da evolução da espécie para cada caso e ecossistema em que se inserem, não há maus nem bons, otários nem facinoras, dançam simplesmente todos a dança da vida da forma que a natureza lhes provou em milhões de anos ser a melhor.
E nós ainda e para sempre aqui andando a brincar ao 'tug-of-war' entre pinochets e lenines. Sempre com a porcaria da bondade e maldade como fio de prumo, como quem tenta medir o tempo com uma régua.